O seu nome diz tudo: o coelho azul de Viena é originário da Áustria. Não só é bonito com o seu pelo azul-acinzentado...
PORQUE NÃO DEVO CRUZAR O MEU HAMSTER?
INTRODUÇÃO
O cruzamento de dois animais para ter uma ninhada é um assunto muito sério e que requer muita reflexão antes de ser efectuado. Não basta juntar um macho e uma fêmea e esperar que tudo aconteça, mas é necessário estudar previamente, assim como consultar profissionais (criadores éticos e veterinários) para que nos informem sobre os procedimentos, se os nossos animais de estimação são adequados para a reprodução ou para esse cruzamento em particular (genes letais, idade demasiado avançada, defeitos físicos graves? Há muitas pessoas que se entusiasmam por ter uma ninhada ou que o fazem por capricho para os seus filhos e, mais tarde, descobrem que é muito complicado ou que surgem problemas que acabam da pior maneira possível.
Vamos agora explicar-te porque é que NÃO deves criar os teus hamsters e porque é que deves deixar isso para criadores especializados.
PROBLEMAS ASSOCIADOS À GESTAÇÃO OU AO PARTO
HEMORRAGIA VAGINAL
Pode acontecer durante a gravidez ou na data do parto, a hemorragia vaginal é alarmante e não deve ser tomada de ânimo leve.
As causas podem ser variadas: golpes, abortos, hibridações russo-campbell, mãe demasiado jovem, potros demasiado grandes e impossíveis de expulsar (duas horas ou mais de trabalho de parto), piometra (infecções uterinas)...
Se virmos sangue na zona vaginal da nossa hamster grávida, temos de correr para o veterinário exótico, pois este pequeno gesto pode ser a diferença entre ela viver e morrer.
ABORTOS ESPONTÂNEOS
Os abortos espontâneos ocorrem quando a gravidez é interrompida sem causa aparente e a gravidade destes abortos depende do tempo de gestação da hamster.
Antes dos 8 dias de gestação, estes abortos são praticamente imperceptíveis, sendo conhecidos como “reabsorção” (o corpo da mãe absorve os fetos e fá-los desaparecer sem qualquer traumatismo) ou, no caso de os expulsar, come todos os restos e é possível que nós também não nos apercebamos (para além do facto de o nosso hamster não engordar).
Se o aborto ocorrer depois do oitavo dia de gestação, é possível que tenha consequências terríveis, se a virmos dar à luz bebés mortos, é importante que nos dirijamos ao veterinário exótico, pois é possível que haja restos de fetos ou de placenta no interior do útero, o que, a longo prazo, provocará piometra (infeção do útero), septicemia e morte.
REABSORÇÃO DOS FETOS
Conhecida como “aborto silencioso”, a reabsorção fetal ocorre quando a gravidez não é viável e o corpo, sabendo (ou acreditando) disso, absorve os fetos na corrente sanguínea sem deixar vestígios.
Algumas das causas que podem levar a isto são o facto de a fêmea ser demasiado jovem ou demasiado velha para ser mãe, ter problemas de alimentação (pouca comida ou comida de baixa qualidade), desidratação, stress, malformações uterinas, genes letais associados a cores ou padrões de cor ou tóxicos (tratamentos veterinários muito agressivos, desparasitação...).
Não é frequente e podemos constatar isso porque a barriga do nosso hamster não cresce nem endurece, assim como não há vestígios de sangue na gaiola.
NASCIMENTO PREMATURO
Os nascimentos normais de hamsters podem ocorrer até dois dias antes da data prevista, mas se acontecerem mais cedo, é conhecido como “nascimento prematuro”.
Não existe uma razão exacta para um parto prematuro, mas em muitos casos está relacionado com algum tipo de problema hormonal (níveis muito elevados de oxitocina); as crias nascidas prematuramente são normalmente muito pequenas e fracas, e muitas vezes são nados-mortos ou malformadas. É possível que algumas das crias prematuras tenham sobrevivido graças à ajuda da mãe (estamos de mãos atadas), mas a qualidade de vida destes hamsters no futuro é um mistério e as sequelas físicas são frequentes.
ENTREGA TARDIA
Da mesma forma que podemos descobrir que o nosso hamster sofre um parto prematuro, também pode acontecer o que conhecemos como “parto tardio”; Neste tipo de partos, a causa costuma ser que os níveis de oxitocina da fêmea eram demasiado baixos (“oxitocina” é a hormona que provoca e facilita o parto), pelo que o corpo “não sabe” quando devem nascer esses cachorros ou, também, pode acontecer em ninhadas muito pequenas (não atingem a base da pélvis e, portanto, não ajudam a libertar essa hormona).
Estes casos são muito perigosos, pois só há duas opções: o corpo expulsa-os (mortos) após alguns dias ou os filhotes mumificam no útero, tornando-se uma potencial fonte de infeção.
GRAVIDEZ PSICOLÓGICA
Por vezes, as gravidezes “inexistentes” ocorrem em fêmeas estéreis que acasalaram recentemente ou que estão no período fértil em contacto próximo com um macho sem possibilidade de cruzamento, tudo como resultado de um desequilíbrio hormonal.
Caracteriza-se pelo facto de a fêmea se comportar como se estivesse grávida, muitas vezes ganhando peso e fazendo ninhos, podendo mesmo produzir leite materno; nunca dão à luz e nunca engordam tanto como numa verdadeira gravidez.
Não é completamente nocivo, mas é bom saber do que se trata para o caso de nos encontrarmos nesta situação, a castração seria uma forma de evitar ou cortar este comportamento pela raiz, embora seja um procedimento arriscado.
MÃE “IGNORANTE
Nos primeiros dias de crescimento, os bebés são extremamente dependentes da mãe, não conseguem digerir nem excretar sozinhos, para além de por vezes se esquecerem de respirar, precisam de ser alimentados de duas em duas horas e do calor fornecido pela mãe, uma vez que não o conseguem manter. A mãe está muito ocupada com tudo isto e sai raramente do ninho, geralmente para comer, para se aliviar e, por vezes, para fazer um pouco de exercício. No entanto, estas “escapadelas” não costumam durar muito tempo.
Os hamsters são muito responsáveis com os seus bebés até estes atingirem a maturidade, mas há alturas em que a mãe não se interessa pelos seus filhotes e decide não cuidar deles. Normalmente, isto acontece porque ela não sente que pertence à sua ninhada, o que acontece se tocarmos nos bebés, se a mãe ficar stressada por estar constantemente a olhar ou a pegar nela, ou se impregnarmos o ninho com um cheiro estranho (isto acontece quando limpamos a gaiola ou aplicamos desodorizantes, perfumes ou substâncias semelhantes perto do ninho).
É por isso que é importante não tocar nos bebés (ou na mãe, se possível) nem limpar a gaiola antes de os bebés terem 15 dias de idade. Temos de “lembrar” à mãe que ela tem um ninho para cuidar. Se a aproximarmos (com uma luva) dos seus bebés, ela pode reconhecê-los e decidir continuar a cuidar deles, ou pode ignorá-los completamente. Se a tua fêmea decidir não cuidar dos bebés, existe a possibilidade de cuidares tu mesmo deles, para saberes como, clica aqui.
É importante que estejas ciente disto, pois os bebés não sobrevivem mais de duas horas sem a mãe.
FEBRE INFANTIL
Acontece muito raramente, porque o leite materno contém infecções que causam inchaço no abdómen do bebé, resultando em morte. Isto pode ser resolvido se a cadela for tratada com antibióticos por um médico veterinário.
Por vezes, os bebés têm prisão de ventre ou podem nascer com problemas genéticos que os impedem de ter um sistema digestivo ou excretor desenvolvido, pelo que não conseguem digerir/excretar os seus resíduos. Não confundir com a febre infantil, pois na obstipação o abdómen é duro, ao passo que na infeção é mole.
ARREFECIMENTO DOS BEBÉS
Como já foi referido, os bebés dependem do calor da mãe. Acontece frequentemente que, quando a mãe sai do ninho para se aliviar, arrasta consigo um bebé que está a mamar ou, quando estes aprendem a mexer-se, fogem do ninho.
Quando estão sozinhos, a sua temperatura corporal baixa, provocando letargia e hipotermia. Esta situação provoca a morte se a cria não for devolvida ao ninho o mais rapidamente possível. Se ainda estiver vivo, pode ser reanimado pela mãe.
Normalmente, é a própria mãe que vai à procura das suas crias, quer porque se apercebe de que falta uma cria no ninho, quer porque esta a chama com o seu gemido. Se passar algum tempo e a mãe não vier em seu auxílio, devemos voltar a colocá-lo no lugar (usando sempre luvas).
CANNIBALISMO
O canibalismo nos hamsters acontece devido a certos factores que o provocam mas que, como tudo o resto, são evitáveis.
Uma das causas para que uma mãe hamster coma um ou mais filhotes é que a sua alimentação é pobre ou inadequada, especialmente em termos de proteínas; então, incapaz de produzir leite suficiente para todos, decide comer o filhote mais fraco da ninhada para encher o seu estômago e produzir o leite necessário para alimentar os outros.
Outra opção é que a mãe seja demasiado jovem (abaixo da idade mínima indicada para a sua espécie) e inexperiente e, vendo que estas crias mortas são um “perigo” para o ninho (uma fonte de infeção e um sinal de “alarme” para os predadores), devora-as.
A isto temos de acrescentar um fator de stress; é muito importante não perturbar a mãe nem perturbar o ninho (isto é muito importante se tivermos crianças em casa, que ficarão muito excitadas), se as crias de hamster adquirirem um cheiro “estranho” (diferente do da mãe ou do ninho) a fêmea considerá-lo-á um potencial intruso e atacará, podendo destruir toda a ninhada. Se tivermos de tocar ou manipular a ninhada, devemos usar sempre luvas e colocá-la num recipiente limpo, no qual não tenhamos utilizado desinfectantes com perfumes ou cheiros fortes; é melhor esperar (se não tivermos experiência) até que tenham 10-15 dias de idade para os manipular.
Por outro lado (e isto é o que mais nos pode incomodar) é que há fêmeas com o “vício” do canibalismo implantado no seu cérebro; apesar de terem à sua disposição uma boa quantidade de comida (sã e completa), tranquilidade e um manuseamento correto. Fazem-no sem causa aparente e isso é muito frustrante. Se tivermos uma fêmea “canibal” e este comportamento se repetir em dois nascimentos consecutivos, o melhor a fazer é dispensar esta fêmea do nosso programa de criação e procurar um lar adotivo para ela.
MORTE DE CRIAS
É muito frequente em ninhadas demasiado numerosas, nascidas de mães muito jovens ou muito velhas ou resultado de incesto demasiado “forte” ou não devidamente estudado (“linebreeding” ou “inbreeding”); como consequência de tudo isto, podem surgir animais fracos, deformados ou portadores de genes letais devido a um cruzamento incorreto. Estes animais geralmente morrem à nascença ou nos primeiros dias e a mãe encarrega-se do seu “desaparecimento” (vimos isto na secção “canibalismo”) mas, se isso não acontecer, é nossa obrigação remover a carcaça ou quaisquer pedaços de carcaça que possam estar presentes; se não o fizermos, é muito provável que se tornem uma fonte de infeção e façam com que os seus irmãos adoeçam ou sejam abandonados pela mãe.
MORTE DA MÃE
Por vezes, o bom estado de saúde da mãe e os cuidados adequados sob todos os pontos de vista não são uma garantia de que não ocorrerá um infortúnio (embora o reduzam bastante). Por vezes perdemos a mãe e as hipóteses de sobrevivência da ninhada são sempre proporcionais à idade em que a perdemos; não é a mesma coisa uma cadela morrer à nascença ou nas primeiras vinte e quatro horas do que uma cadela morrer no espaço de uma semana. Podemos tentar adiantar a ninhada através de leite artificial, algo muito complexo e cansativo mas que pode ajudar a adiantar alguns bebés (não é certo que todos saiam, mesmo com anos de experiência).
A maioria das pessoas pensaria em procurar uma mãe adotiva para eles, como se faz com cães, gatos ou mesmo coelhos, mas isso é impossível com os hamsters, pois a mãe rejeitá-los-ia imediatamente ou poderia matá-los.
ACIDENTES
Os acidentes são uma das coisas mais evitáveis quando temos uma ninhada de hamsters mas, ao mesmo tempo, são uma das coisas mais comuns no caso de donos inexperientes ou que não estão minimamente interessados no bem-estar da ninhada. Quedas de grandes alturas (gaiolas com chão), afogamento, fuga ou ataques cardíacos quando presos (gaiolas com paredes gradeadas) ou doenças associadas a um substrato inadequado são os “acidentes” mais comuns.
Sem dúvida, esta é a causa de morte mais fácil de prevenir, mas depende apenas do interesse e informação prévia do proprietário da ninhada (já que ser “criador” é muito diferente).
A MÃE ATACA A CRIA
Embora as mães dos hamsters sejam normalmente dedicadas e muito protectoras dos seus filhotes, não são raros os casos de agressão aos seus próprios filhotes. A causa mais comum destes ataques é a territorialidade natural do hamster e o stress, que pode ser desencadeado por demasiadas ninhadas (pouco espaço na gaiola) ou, no caso de mães que já não querem amamentar as crias e querem ser deixadas em paz, recorrem à agressão para atingir esse objetivo.
Se nos depararmos com este caso em alguma das nossas ninhadas, o melhor e mais racional a fazer é manter a calma e separar as crias da mãe, procedendo nós próprios à sua criação.
GRAVIDEZ DUPLA
Se não separarmos o macho da cadela antes do parto, ele montará na cadela assim que ela der à luz e quase de certeza que a engravidará de novo. Se isto acontecer, a situação torna-se mais complicada, pois a fêmea terá de ter à sua disposição muita comida e proteínas para poder criar a sua ninhada e gestar a seguinte (caso contrário acabará por ficar subnutrida e poderá abortar), sendo muito provável que rejeite a primeira devido ao stress físico e mental a que seria sujeita.
Depois desta situação, o melhor é que a cadela não procrie durante uma boa época ou não procrie de todo, para que recupere fisicamente.
HEMORRAGIAS INTERNAS
As hemorragias internas (durante ou após o parto) são uma das coisas que temos de ter em conta se quisermos reproduzir o nosso hamster. Não tem nada a ver com o facto de a fêmea estar bem ou mal tratada, é uma possibilidade que existe, uma lotaria.
A hemorragia interna ocorre quando uma artéria ou uma veia se rompe e o sangue começa a sair pela vagina ou fica no interior do corpo, engurgitando os órgãos. Se isto acontecer, é muito improvável que o nosso hamster se salve, por isso é importante vigiá-lo o mais de perto possível e controlá-lo sem o stressar. Se notarmos que está a sangrar demasiado ou que não pára, devemos ir ao veterinário, por mais pequenas que sejam as hipóteses de sobrevivência.
DISTOCIA
O que é a “distócia”? Em medicina, o termo “distócia” é utilizado quando o parto ou a expulsão se processa de forma anormal ou difícil. Pode ser o resultado de contracções uterinas descoordenadas, de uma posição anormal do feto, de uma desproporção cefalopélvica relativa ou absoluta (os cachorros têm uma cabeça demasiado grande e a bacia da mãe é demasiado estreita) ou de anomalias que afectam o canal de parto mole. Nos hamsters, a obesidade é também uma das causas desta doença, cujos sintomas são a letargia da mãe, hemorragias vaginais, processos de expulsão muito longos sem que o feto saia e sintomas de sofrimento na mãe. Se observarmos isto no nosso hamster, é indispensável ir com urgência ao veterinário.
HAMSTERS QUE MORREM DURANTE O PARTO
Por vezes, é lamentável que a mãe morra durante o parto, por várias razões. A taxa de sobrevivência dos bebés é diretamente proporcional ao número de dias de vida que têm no momento em que perdem a mãe. A criação artificial de hamsters é possível, mas é cansativa e não garante 100% de sobrevivência. Há um post dedicado a este assunto, que já foi referido anteriormente neste post.
Deves ter em conta que as hamsters fêmeas NÃO aceitam bebés estrangeiros, por isso procurar uma ama de leite não é uma solução.
QUERES SER UM CRIADOR?
Se mesmo com todos estes avisos o teu maior desejo é dedicares-te à criação, seleção e melhoramento de hamsters, é importante lembrar que é algo para o qual tens de estudar, e não nos estamos a referir a cursos ou carreiras especializadas, mas sim a ler muitos livros, artigos e sites nacionais e estrangeiros de forma a teres o máximo de conhecimento possível. Ser assistente veterinário é uma grande ajuda para saber distinguir o que se passa com o nosso hamster ou quando uma situação requer assistência veterinária (e quando não é necessária), teremos de ser membros de um clube nacional ou internacional que nos ajude na seleção correcta, importar exemplares saudáveis e de boa qualidade (o que é um investimento importante na questão do transporte), adaptar a nossa casa ou adquirir um local onde possamos ter instalações correctas e poder separar as crias até terem um bom lar, etc.
É algo que se faz por paixão e que nunca enriquece ninguém, pelo contrário, custa muito dinheiro e investe-se muito para manter os animais bem e fazer as coisas bem feitas, assim como se investe muito tempo livre e noites que poderiam ser passadas a dormir, a ir de férias ou a festejar.
CONCLUSÃO
A criação de qualquer tipo de animal é uma atividade muito séria que não deve ser tomada de ânimo leve. Muitas coisas infelizes podem acontecer porque estamos a lidar com seres vivos e, no caso dos hamsters, temos a desvantagem de que quando atingem a idade do desmame (um período muito, muito curto após o nascimento em comparação com outras espécies animais) teremos de ter um habitat preparado para cada hamster, por isso temos de ter um bom espaço e uma predisposição para o ter.
A criação ética nunca é motivada pelo dinheiro (que é utilizado para cobrir as despesas dos animais e dos seus pais), mas sim pela paixão, qualidade e afeto.
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